Carrefour cresce mais que o Pão de Açúcar em ano de forte disputa
19 de janeiro de 2015Por Adriana Mattos
Resultados publicados pelo Carrefour na sexta-feira mostram que a varejista tem crescido a taxas mais altas que o Grupo Pão de Açúcar (na área alimentar), indicando que a rede controlada pelo Casino pode ter perdido mercado ou, no mínimo, estar com mais dificuldades de ampliar participação nas vendas, especialmente no negócio de hipermercados. Na sexta-feira, após divulgação dos números do Carrefour, o papel fechou em alta de 3,9% na bolsa de Paris. No Brasil, o GPA fechou em baixa de 2,19%.
O Carrefour “descolou” do GPA em termos de taxa de crescimento (ver gráfico ao lado), e analistas sugerem que isso pode refletir mais do que apenas a expansão do Atacadão, rede do Carrefour, e do efeito da base de comparação mais forte do GPA. Eles questionam até que ponto a estratégia do Pão de Açúcar (implantada em 2013) de ganhos de eficiência, repassados a preços, pode estar dando resultado, num setor em que todas as grandes redes também têm reduzido preços.
O Carrefour Brasil teve alta de 14,7% nas vendas brutas (em reais) de outubro a dezembro. Houve aumento de 5,8% na operação do Extra, Pão de Açúcar e Assaí. Em “mesmas lojas” (pontos em operação há mais de um ano), a alta foi de 10,4% no Carrefour e nas redes do GPA, 1%. Nos balanços dos últimos dois anos, pelo menos, a discrepância nunca foi tão grande.
No acumulado de 2014, em vendas “mesmas lojas”, Carrefour cresce 8,2% e GPA Alimentar, 3,5%. Ao se incluir todas as lojas (inclusive aberturas no ano), o GPA cresce 9,2% e Carrefour, 11,5%.
No caso do GPA, os dados são vendas líquidas, e no Carrefour, brutas, mas mesmo um ajuste nesse número não mudaria o quadro. Nos últimos quatro trimestres, a receita bruta do GPA Alimentar tem estado de um a dois pontos acima da taxa de expansão da receita líquida, sem alteração, portanto, desse cenário.
Relatórios de analistas divulgados na semana passada levantam duas possibilidades. O GPA pode não estar executando a estratégia de ganhos de eficiência tão bem, ou a competição é tão agressiva que o cenário pediria ajustes no plano seguido pela empresa, como escreveu Guilherme Assis, analista da Brasil Plural, ao avaliar o desempenho nas “mesmas lojas” do GPA.
“A continuação do forte crescimento do Carrefour no Brasil levanta um sinal de cautela em nossa tese de que o GPA está apresentando uma sólida execução e cumprindo sua estratégia para se tornar mais competitivo e ganhar mercado”, diz Assis. Em relatório dias atrás, analistas do J.P. Morgan afirmam que Carrefour tem tido bom desempenho em mercados como o Brasil, e por isso a rede está ganhando participação de mercado sobre seus rivais.
Para a equipe de analistas do BTG Pactual, o GPA tenta tornar o Extra hipermercado mais competitivo, após perder 5,6% das vendas de julho a setembro. E fez isso reduzindo os preços, o que atrairia mais consumidores. Mas um ritmo maior de promoções, diz o banco, tem afetado as vendas “mesmas lojas”. Os hipermercados são o maior braço alimentar do GPA, com 22% das vendas.
O Valor apurou que a empresa teria fixado alguns preços, em suas lojas de hipermercados no ano passado, num patamar abaixo do mercado, sem que isso tivesse aumentado volume vendido a ponto de compensar o preço menor. “Eles também entenderam que demoraram a reformar as lojas de hipermercado, enquanto o Carrefour começou a reformá-las ao longo do ano. Reforma puxa receita e entra no índice de vendas “mesmas lojas'”, disse uma fonte.
Em outubro, o comando da empresa chegou a admitir para analistas a necessidade de ajustes no modelo de hipermercados Extra. Circulam informações no setor de que ações tomadas teriam ampliado a participação de mercado do Extra de outubro a dezembro, mas que ainda não teria reposto completamente a perda de 2014.
O Valor apurou que, internamente, o GPA entende que o Carrefour (com Abilio Diniz como novo sócio) tem algumas vantagens difíceis de bater, mas sabe que tem a maior número de formatos de lojas do que o rival. Com isso, consegue compensar perdas. Além disso, calculam que algumas aberturas bem sucedidas do Assaí não estão computadas nas vendas “mesmas lojas”. Há nove lojas nessa situação, abertas em 2014.
A vantagem do Carrefour, que explica parte dos resultados de 2014, está na aceleração dos investimentos, já há alguns anos, no formato Atacadão. O modelo cresce bem mais rapidamente que supermercados e hipermercados. São 110 pontos do Atacadão no Brasil e 102 hipermercados.
Não há informações se a disputa entre as redes afetou a rentabilidade das lojas em 2014. Dados sobre margem do GPA serão publicados em fevereiro. O Carrefour Brasil não informa esse número.